Além dos sintomas físicos já conhecidos, o tabagismo pode ter relação direta com quadros de estresse, ansiedade e depressão.
Nós já falamos aqui e também nas nossas redes sociais sobre os muitos impactos que a pandemia da Covid-19 vem causando na saúde mental das pessoas – seja pelo clima instaurado de medo e incerteza, seja pelo isolamento social. Mas uma pesquisa recente divulgada pela Fiocruz mostra que existe um outro impacto direto e que afeta principalmente quem fuma. O estudo mostra que 34% dos fumantes brasileiros aumentaram a quantidade de cigarros consumidos neste período. Os entrevistados atingidos pelo tabagismo afirmam ter tido uma piora na qualidade de sono e ter aumentado ainda mais sintomas de tristeza, irritação e solidão.
Para quem ainda está se perguntando o que é tabagismo, estamos falando de uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco (incluindo não só cigarros comuns mas também cachimbos, charutos e cigarros de corda).
Considere ainda que, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com 22 milhões de fumantes, para entender o tamanho e a importância deste dado. E isso porque nem estamos colocando neste número os fumantes passivos.
Você pode estar se perguntando aí exatamente qual é a conexão direta do fumo com a nossa saúde mental. Bom, as questões FÍSICAS a respeito do tabagismo já são muito claras há anos – fator de risco para uma série de doenças crônicas, ele pode desencadear ou potencializar problemas como infarto do miocárdio, derrame, impotência sexual no homem, infertilidade da mulher, hipertensão e diabetes.
Além disso, estima-se que 90% das pessoas que desenvolvem câncer de pulmão apresentam como fator responsável o fumo (com certeza você já viu uma daquelas imagens do pulmão de um fumante). O mesmo percentual também se aplica aos portadores dos cânceres de cavidade oral, incluindo a língua, garganta e esôfago. Isso, claro, sem qualquer diferença entre as marcas de cigarro.
Só que o cigarro (e incluindo aí TAMBÉM o chamado cigarro eletrônico) é também uma tremenda válvula de escape para situações desagradáveis, tornando-as aparentemente mais toleráveis, além do que seria “apenas” o vício dos fumantes. O dia foi mais difícil? Fuma pra relaxar. Rolou uma crise de ansiedade? Respira fundo e fuma pra relaxar. Está se sentindo pressionado e não consegue sair do bloqueio criativo no trabalho? Para um pouquinho e fuma pra relaxar. Cigarro na hora de levantar, pra ajudar a acordar. Cigarro na hora de tomar um café, porque combina. E também com aquela cervejinha.
E neste momento em que você “fuma pra relaxar”, ele libera neurotransmissores responsáveis pela sensação de prazer, modificando o estado emocional e comportamental do fumante. E eis que a dependência emocional se junta à dependência química, criando “gatilhos” e associações com hábitos e rotinas. E caso o cigarro não esteja à mão naquele momento mais complicado, como a solução para os problemas, o gatilho da ansiedade pode ser disparado e o episódio ganhar contornos ainda maiores e complicados de vencer. Portanto, o mal que o cigarro faz à saúde pode se tornar ainda mais intenso.
Em uma entrevista para o portal do Ministério da Saúde, o médico psiquiatra e professor adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), Leonardo de Almeida Sodré, afirma que também existe uma prevalência maior de tabagismo entre outros transtornos mentais. “E para quem já faz algum tipo de tratamento para esses transtornos e ainda continua fumando, esse hábito pode prejudicar a resposta dos remédios que estiverem sendo utilizados”.
Já Beatriz Ávila, psicóloga residente no Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso do Hospital Universitário de Aracaju (SE), reforça que estudos mostram que os fumantes apresentam índices consideráveis de ansiedade e depressão e inclusive existe uma relação entre a existência de algum transtorno mental prévio e o tabagismo, especialmente os de ansiedade e de humor.
“É muito comum confundir o prazer, alcançado ao fumar, com alívio. Mas na verdade, o que está acontecendo é apenas um desejo do corpo, pela nicotina, sendo saciado. A ansiedade que o indivíduo sente e que busca aliviar com o cigarro é exatamente o efeito da privação da nicotina”, explica o médico. Este relaxamento faz, inclusive, que pessoas que fazem uso de medicamentos para tratar transtornos mentais acabem fumando na esperança de reduzir alguns efeitos colaterais.
E quando o cigarro não consegue mais ajudar, a frustração é ainda maior e os efeitos mentais muito mais devastadores.
O mais curioso é que um estudo de 2014, publicado pela revista British Medical Journal (BMJ) e revisando cerca de 26 outras pesquisas sobre o tema, num trabalho de pesquisadores das universidades de Birmingham e Nottingham, mostra que abandonar o cigarro tem justamente um efeito semelhante ao dos antidepressivos utilizados para tratar ansiedade ou transtornos de humor.
Os pesquisadores observaram que aqueles que deixaram de fumar passaram a apresentar menos sentimentos relacionados à depressão e ansiedade, além de ter uma visão mais positiva da vida. Portanto, talvez seja a hora de começar mesmo a pensar em como parar de fumar. De uma vez por todas.
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